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Manutenção Predial e os Indicadores de Performance (KPI’s)

Um olhar aprofundado sobre a arte de cuidar das edificações revela que a manutenção predial vai muito além de simples reparos pois trata-se de um conjunto de ações estratégicas essenciais para garantir a segurança dos usuários, a valorização do patrimônio, a eficiência operacional e, cada vez mais, a sustentabilidade do ambiente construído. Em um cenário onde as edificações são ativos de alto valor e complexidade, negligenciar sua manutenção é um risco que proprietários, gestores e usuários não podem correr. Confira o artigo, Manutenção Predial e os Indicadores de Performance (KPI’s).

A manutenção predial é definida pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), por meio da sua norma ABNT NBR 5674, como o conjunto de atividades a serem realizadas para conservar ou recuperar a capacidade funcional de uma edificação e de suas partes constituintes, de modo a atender às necessidades e à segurança dos seus usuários. Esta norma serve acima de tudo como um guia para a gestão da manutenção, estabelecendo diretrizes para a elaboração de um plano que contemple as particularidades de cada edifício.

 

Tipos e Aplicações

 

A Manutenção Corretiva é a mais conhecida pelo público em geral, pois atua de forma reativa, ou seja, após a ocorrência de uma falha ou defeito. Portanto, seja um vazamento, uma falha elétrica ou um equipamento quebrado, a manutenção corretiva entra em cena para restaurar a funcionalidade. Embora indispensável, depender exclusivamente dela pode acarretar custos mais elevados, paralisações inesperadas e potenciais riscos à segurança.

Em um patamar mais estratégico, temos a Manutenção Preventiva pois como o próprio nome sugere, seu objetivo é prevenir falhas. Ela se baseia pois em um cronograma de intervenções periódicas, que incluem inspeções, limpezas, lubrificações e substituição de componentes com vida útil determinada. A troca regular de filtros de ar-condicionado e a verificação de sistemas de combate a incêndio são exemplos clássicos. Essa abordagem programada reduz portanto a probabilidade de falhas emergenciais, prolonga a vida útil dos equipamentos e otimiza os custos operacionais.

O tipo mais avançado e tecnológico é a Manutenção Preditiva pois utiliza ferramentas e tecnologias para monitorar o estado e o desempenho dos equipamentos em tempo real. Por meio da análise de dados como vibração, temperatura, e consumo de energia, é possível prever com alta precisão quando um componente está prestes a falhar. Além disso, a antecipação permite que o reparo seja agendado no momento mais oportuno, evitando paradas inesperadas e maximizando a eficiência.

 

Manutenção Predial e os Indicadores de Performance (KPI’s)

 

Para que a gestão da manutenção seja verdadeiramente eficaz, não basta apenas executar as tarefas, é preciso medir os resultados. É aqui que entram os Indicadores-Chave de Performance (KPIs, da sigla em inglês Key Performance Indicators). Eles são métricas utilizadas para avaliar o sucesso das operações e direcionar melhorias. No universo da manutenção predial, alguns dos mais importantes são:

 

MTBF ou TMEF (Tempo Médio Entre Falhas)

Este indicador mede a confiabilidade de um equipamento, calculando o tempo médio que ele opera sem apresentar defeitos. Um TMEF alto é sinal de que as manutenções preventiva e preditiva estão sendo eficazes, de fato.

Exemplo Prático:

Cenário: Durante os últimos 6 meses (4.380 h), você registra no sistema de OS que elevadores apresentaram, juntos, 15 falhas que exigiram um chamado técnico.

Cálculo:

  • Tempo total de operação: 4.380 h
  • Número de falhas: 15
  • TMEF = Tempo total de operação / Número de falhas
  • TMEF = 4.380 / 15 = 292 h

Análise e Ação Prática:

  • O resultado mostra que, em média, ocorre uma falha em algum dos elevadores a cada 292 h, ou seja, a cada 12 dias, aproximadamente.

Decisão:

  1. Questionar o fornecedor: Apresentar o TMEF para a empresa de manutenção dos elevadores e exigir um plano de ação para melhorar a confiabilidade.
  2. Revisar o plano de manutenção preventiva: Talvez as inspeções não estejam sendo frequentes o suficiente ou não estejam cobrindo os componentes corretos. O gestor pode, no entanto, solicitar um aumento na frequência das visitas preventivas.
  3. Planejar uma modernização: Se o TMEF continuar baixo mesmo com as manutenções, o indicador serve como um forte argumento para justificar, em uma assembleia, o investimento na modernização ou substituição dos equipamentos.

 

MTTR ou TMPR (Tempo Médio Para Reparo)

Mede a eficiência da equipe de manutenção, indicando o tempo médio necessário para solucionar uma falha desde o momento da notificação até a conclusão do reparo. Um TMPR baixo significa portanto agilidade e boa capacidade de resposta.

Exemplo Prático:

Cenário: Nos últimos 3 meses, ocorreram 5 chamados críticos para o ar-condicionado. O gestor anota o tempo desde a abertura do chamado até a finalização do reparo:

  • Chamado 1: 4 horas
  • Chamado 2: 6 horas
  • Chamado 3: 3 horas
  • Chamado 4: 5 horas
  • Chamado 5: 7 horas (faltava uma peça em estoque)

Cálculo:

  • Tempo total de reparo: 4 + 6 + 3 + 5 + 7 = 25 horas
  • Número de reparos: 5
  • TMPR = Tempo total de reparo / Número de reparos
  • TMPR = 25 / 5 = 5 horas

Análise e Ação Prática:

  • Em média, a equipe leva 5 horas para resolver um problema crítico no ar-condicionado.

Decisão:

  1. Otimizar o estoque: Criar um estoque mínimo para as peças mais críticas do sistema de ar-condicionado, reduzindo assim o tempo de espera por fornecedores.
  2. Investir em treinamento: Se o tempo de reparo for alto por dificuldade técnica, o gestor pode identificar a necessidade de capacitar a equipe para lidar com aquele equipamento específico.
  3. Definir metas: Estabelecer uma meta interna de reduzir o TMPR para menos de 4 h nos próximos seis meses, incentivando a agilidade da equipe.

 

Backlog de Manutenção

Representa o acúmulo de ordens de serviço pendentes. Monitorar o backlog ajuda a entender se a equipe está dimensionada corretamente para a demanda e se as prioridades estão sendo bem gerenciadas.

Exemplo Prático:

Cenário: Uma gestora de facilities de um escritório de 5.000 m² quer saber se sua equipe de 4 pessoas está dando conta do volume de trabalho ou se precisa de mais gente.

  • OS pendentes do mês anterior: 15
  • Novas OS abertas no mês: 80
  • OS concluídas no mês: 70

Cálculo:

  • Backlog inicial: 15 OS
  • Backlog final = (Backlog inicial + Novas OS) – OS Concluídas
  • Backlog final = (15 + 80) – 70 = 95 – 70 = 25 OS

Análise e Ação Prática:

  • O backlog aumentou de 15 para 25 ordens de serviço em um mês. Isso significa que a equipe não conseguiu atender a toda a demanda gerada, e portanto o trabalho acumulado está crescendo.

Decisão:

  1. Justificar contratação: Usar o aumento constante do backlog para provar à diretoria a necessidade de contratar mais um técnico para a equipe.
  2. Priorizar tarefas: Analisar as 25 OS pendentes e classificar por criticidade (segurança, impacto na operação, etc.), garantindo que as mais importantes sejam feitas primeiro.
  3. Terceirizar serviços: Avaliar se parte dos serviços, como a jardinagem ou a manutenção de um sistema específico, pode ser terceirizada para aliviar a carga da equipe interna.

 

Custo de Manutenção por m²

Este KPI financeiro ajuda a comparar a eficiência dos custos de manutenção de um edifício com outros do mesmo padrão ou com a média do mercado, pois permite identificar oportunidades de otimização de recursos.

Exemplo Prático:

Cenário: O administrador de um shopping center precisa apresentar seu orçamento anual e justificar os custos do departamento de manutenção.

  • Custos com pessoal (salários, encargos): R$ 600.000
  • Custos com materiais e peças: R$ 250.000
  • Custos com serviços terceirizados (limpeza de fachada, controle de pragas): R$ 150.000
  • Área total do shopping: 50.000 m²

Cálculo:

  • Custo total de manutenção: 600.000 + 250.000 + 150.000 = R$ 1.000.000
  • Custo por m² = Custo total / Área total
  • Custo por m² = 1.000.000 / 50.000 = R$ 20,00 por m²/ano

Análise e Ação Prática:

  • O custo para manter cada m² do shopping é de R$ 20,00 por ano.

Decisão:

  1. Comparação com o mercado: O administrador pesquisa e descobre que a média de custo para shoppings similares é de R$ 25,00/m². Isso mostra portanto que sua gestão está 20% mais eficiente que a média, o que é um ótimo argumento para defender seu orçamento.
  2. Análise histórica: Ele compara com o custo do ano anterior, que foi de R$ 18,00/m². O aumento pode ser justificado pela inflação, reajuste salarial ou pela implementação de uma nova tecnologia que, apesar do custo inicial, reduzirá falhas no futuro.
  3. Identificar desvios: Se o custo de materiais subiu muito em relação a outros anos, ele pode investigar se houve desperdício, se os preços dos fornecedores aumentaram ou se foi um ano com muitas manutenções corretivas.

 

Contribuições Fundamentais

 

Em suma, a manutenção predial transcendeu a visão de um mero centro de custos para se firmar como um investimento estratégico. Ao garantir a segurança, promover a eficiência, valorizar o patrimônio e contribuir para a sustentabilidade, ela se revela como um pilar fundamental para a longevidade e o bom desempenho de qualquer edificação, assegurando que os espaços que habitamos e utilizamos sejam não apenas funcionais, mas também seguros, confortáveis e resilientes ao longo do tempo. Manutenção Predial e os Indicadores de Performance (KPI’s) Manutenção Predial e os Indicadores de Performance (KPI’s)

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